sexta-feira, 6 de abril de 2012

Apresentação do Blog

          Este blog não tem a pretensão de ser uma tese científica da condição humana. O autor não tem tamanha pretensão. A intenção de escrever este blog foi um desejo de compartilhar com a leitora ou leitor, as diversas experiências e reflexões de como algumas pessoas viveram, vivem e desejam viver suas próprias vidas. É um ensaio sobre a história das emoções pessoais.
         Acredito que o modo como as pessoas vivem despertam em nós não somente curiosidades, fantasias, desejos, mas também é um modo de revelar como nossos preconceitos, intolerâncias morais e culturais se manifestam diante da vida do outro. O julgamento que fazemos sobre a vida das pessoas acaba por revelar a nossa própria visão de mundo.
É através dessa alteridade entre “nós” e os “outros” que podemos imaginar e experimentar novas formas de sociabilidades que privilegie acima de tudo a solidariedade e o respeito diante das novas formas de existência pessoais, ou aquilo que podemos chamar também de uma estética da existência dos indivíduos.   
         O termo emoção deve ser compreendido no sentido de como algumas experiências humanas foram sentidas e vividas no plano individual, ao mesmo tempo, como estas experiências pessoais foram transformadas através do tempo. Uma história das experiências pessoais: os medos, os anseios, as aspirações, a coragem, os desejos, os sonhos e as fantasias.
A ideia de escreve este blog sobre história pessoal não vem com a pretensão de querer substituir outras formas de história, ou “reivindicar ser melhor do que elas: ela representa um ponto de vista pessoal, e nada mais”, foi o que aprendi com o historiador Theodore Zeldin. A leitora ou leitor também notará que neste blog procurarei da ênfase sobre as emoções pessoais das mulheres. De fato, foi esta a intenção pessoal do autor: tratar de experiências pessoais femininas.   
Escolhi as mulheres como ponto de partida deste blog devido, primeiramente, pela afinidade e intimidade que gosto de compartilhar com este gênero humano. Por outro lado, acredito que quando compreendemos e compartilhamos, quando somos cúmplices e íntimos da experiência do “outro” estamos nos permitindo vivenciar uma forma de alteridade. Um modo talvez de atravessar a fronteira daquilo que definimos como território masculino e feminino.
Estou convencido de que as mudanças sociais, políticas, íntimas e/ou culturais serão ainda mais profundas em nossa sociedade na medida em que as mulheres forem capazes de dar continuidade ao processo de transformação comportamental que estão vivenciando; e quando também forem capazes de construírem suas próprias identidades de modo mais autônomas.
Compartilho da mesma opinião que as transformações comportamentais e/ou culturais com que as mulheres ou, pelos menos, muitas delas estão vivenciando de forma intensa é o que demais importante vem acontecendo na história da humanidade depois da metade do século vinte. É uma revolução íntima e, muitas vezes, até silenciosa.  
Preferi escrever sobre mulheres porque não sou uma e porque, inspirado nas ideias do historiador Theodore Zeldin, “sempre escolhi escrever acerca de assuntos que não me tentam a ser tão arrogante a ponto de acreditar que posso entendê-los por completo, mas acima de tudo porque muitas mulheres me parecem ver a vida com olhos frescos, e suas autobiografias, sob vários aspectos, são as partes mais originais da literatura contemporânea”.
  Aprendi também com o sociólogo inglês Anthony Giddens sobre a grande “transformação da intimidade” que as sociedades modernas estão passando. Para este sociólogo, as transformações íntimas que vem acontecendo às mulheres e aos homens podem servir de termômetro para medir o grau de democratização das sociedades. E esta transformação da intimidade – que implica uma total democratização do domínio interpessoal – pode muito bem conviver de maneira compatível com a democracia na esfera pública.
A transformação da intimidade, diz este sociólogo, pode ser um modo de agir de maneira subversiva sobre as instituições modernas como um todo. Imagine se substituíssemos a valorização do crescimento econômico pela realização emocional e/ou pessoal; talvez o mundo social fosse muito diferente daquele que conhecemos hoje. De qualquer modo, as transformações que vêm ocorrendo na intimidade – em particular na afetividade e na sexualidade – são revolucionárias e intensas.  
Este blog também quer tratar de outra forma de pensar a ideia de sociedade democrática. O filósofo Renato Janine Ribeiro, ensinou-me que “é preciso desenvolver a ideia de que a democracia não é só um regime político, mas um regime de vida”. Uma sociedade democrática é aquela que deseja e vive a liberdade em suas relações cotidianas e afetivas.
A democratização das várias formas de viver afetivamente as relações humanas são condições necessárias para o indivíduo exercer sua liberdade no cotidiano. Isso quer dizer que é preciso democratizar o mundo dos afetos humanos. “É preciso democratizar o amor, seja erótico, paternal ou filial, a amizade, o encontro com o desconhecido: tudo o que na modernidade faz parte da vida privada”. Concordando com o filósofo Renato Janine Ribeiro, as ideias e práticas democráticas devem estar inseridas na vida cotidianas de todas as pessoas. E um desafio à modernidade contemporânea.
         A democracia da vida cotidiana passa a ser então o respeito que devemos ter com o outro. O respeito ao outro “implica reconhecer que ele não precisa ser como nós”, por isso mesmo, torna-se necessário “aceitar sua diferença cultural, sexual, política, religiosa e/ou de valores, bem como, admitir que tenha as mesmas chances que nós de encontrar seu caminho e de viver” livremente e com dignidade. São dessas experiências humanas da vida cotidiana que este blog irá tratar. 

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